Jack McCollough e Lazaro Hernandez entram na Loewe. A dupla de designers, fundadores da marca Proenza Schouler, ficará agora responsável por todas as coleções da marca, incluindo roupas femininas, roupas masculinas, artigos de couro e acessórios. Assim, um novo rumor é confirmado neste interminável intercâmbio de casas de moda que estamos vivendo.
Quando Jack e Lazaro deixaram sua marca em janeiro passado – embora continuem no conselho de administração como acionistas – as sobrancelhas da indústria se ergueram suspeitosas. Esse movimento, juntamente com o rumor amplamente divulgado sobre a saída de JW Anderson da Loewe, os indicou como sucessores diretos. Um boato que ganhou força quando, no dia 17 de março passado, Anderson se despediu oficialmente da casa que havia sido sua por 11 anos.
“Para mencionar apenas dois fatores [que justificam essa nomeação]: eles são muito criativos e também empreendedores, sua curiosidade e visão vão além da moda e se estendem a diversos campos culturais, assim como à diversidade de mercados e clientes com os quais interagimos”, declarou Pascale Lepoivre, CEO da Loewe, à WWD. “Eles são calorosos, abertos e dinâmicos, se encaixam perfeitamente na cultura da empresa de ser intensos e apaixonados, enquanto também se comprometem a serem lúdicos e não se levarem muito a sério. Sua visão e criatividade combinam perfeitamente com os códigos da casa que criamos, e estou empolgada em vê-los moldar o futuro deles.”
Ambas as notícias de saída e entrada se sobrepõem a outro dos grandes rumores que percorrem a indústria: a saída de Maria Grazia Chiuri da Dior, que, junto com a despedida de Kim Jones da Dior Men em 31 de janeiro de 2025, abriria caminho para que JW Anderson assumisse a direção artística da maison, a mais importante do conglomerado LVMH.
Parece que, de alguma maneira e há algum tempo, o norte-irlandês nos havia deixado pistas sobre esta notícia em seu perfil pessoal no Instagram, onde publicou até sete postagens resumindo seu trabalho na Loewe. Uma despedida redonda que, para muitos, também se refletiu na forma como o designer decidiu apresentar sua proposta de outono/inverno 2025-2026 para a Loewe: em formato apresentação, assim como fez com sua primeira coleção, substituindo assim os desfiles separados de homem e mulher aos quais estávamos acostumados até agora. «Dizem que tudo o que é bom tem um fim, mas não concordo. Enquanto o meu capítulo chega ao fim, a história da Loewe continuará por muitos anos e eu a observarei com orgulho», concluía JW Anderson nas redes sociais, deixando espaço para seus agora herdeiros.
«Estamos incrivelmente honrados por nos juntar à Loewe, uma casa cujos valores e missão estão muito alinhados com os nossos», explicavam Jack McCollough e Lazaro Hernandez no comunicado oficial. «Estamos ansiosos para trabalhar ao lado de suas equipes extraordinárias e artesãos, cujo talento—sob a excepcional direção criativa de Jonathan Anderson—transformou a Loewe na força cultural que é hoje.» Não é para menos, sob a direção anterior, a marca espanhola se tornou uma das mais desejadas do mundo, segundo a Lyst.Não para por aqui, a roda das trocas nas direções das marcas de luxo vem girando há meses. Algumas semanas atrás, outra notícia abalava o mundo da moda, pondo fim a rumores: Demna é o novo diretor artístico da Gucci. No dia 6 de fevereiro, foi anunciada a saída de Sabato De Sarno, anterior responsável pela casa, apenas dois anos após seu nomeamento. O anúncio surgiu após a Kering, o conglomerado de luxo ao qual a Gucci pertence, apresentar seu último relatório de resultados, no qual as contas da marca florentina – sua mais importante – mostravam novamente uma queda nos lucros, uma tendência que foi comum ao longo de todo o ano de 2024. Dessa forma, para surpresa de praticamente toda a indústria da moda, o designer georgiano – que, segundo as últimas críticas, já estava agonizando à frente da direção criativa da Balenciaga após mais de uma década no comando – assume a direção da marca italiana, à frente de outros candidatos ao cargo, entre os quais também estavam – presumivelmente e segundo os rumores fashionistas – Hedi Slimane, Pierpaolo Piccioli ou John Galliano.
Agora, após um mês de especulações e uma coleção de transição criada pelo estúdio criativo, a Gucci encerra as apostas ao mostrar seu novo contratado, um dos criativos que revolucionaram o mundo da moda e as vendas na última década. Um dos responsáveis por renovar definitivamente a marca de alta costura com nome espanhol e unir para sempre o mundo do luxo e o streetwear, sempre com grandes doses de ironia. Assim, a última coleção de Demna para a Balenciaga será a de alta costura outono/inverno 2025, que será apresentada no próximo julho.
Não é a única mudança. No mesmo dia, a Versace colocou à frente Dario Vitale, um perfil mais discreto do habitual, mas que, entre seus feitos, está o de ter transformado a Miu Miu na marca mais desejada do mundo. Esse anúncio aumenta ainda mais os rumores de compra da casa italiana pelo Grupo Prada, ao qual pertence a Miu Miu. Seu cargo exato será Chief Creative Officer, o que significa que ele não só se tornará o novo diretor criativo, mas também supervisionará todas as áreas criativas da marca. Por sua vez, Donatella, que até agora era responsável pelo design, permanecerá na empresa como Chief Brand Ambassador, um cargo focado em apoiar atividades filantrópicas e de caridade, incluindo a Fundação Versace.
Todos esses movimentos se somam ao conhecido «grande jogo das cadeiras» que está sacudindo atualmente a indústria. Não precisamos ir muito longe, pois desde 2024 – e até o momento em que escrevemos estas linhas – 17 diretores criativos deixaram seus postos em diferentes marcas. Por exemplo, no auge da Paris Fashion Week, a Jil Sander anunciou o término de seu contrato com Lucie e Luke Meier para apostar em Simone Bellotti, que acumulou grandes elogios à frente da Bally.Não acaba por aí. Na tarde de 12 de dezembro de 2024, e em um curto período de meia hora, a indústria da moda foi novamente agitada: Matthieu Blazy deixava a Bottega Veneta após três anos de sucessos imparáveis e era substituído por Louise Trotter, que horas antes havia comunicado sua despedida da Carven, onde conquistou boas críticas da indústria. Uma situação que abriu o caminho para confirmar outro dos rumores mais fortes dos últimos meses: Matthieu Blazy é o novo diretor criativo da Chanel.
Tudo isso aconteceu no meio de uma semana agitada para a moda: no dia anterior, John Galliano deixou a Maison Margiela, dando lugar a Glenn Martens, que havia deixado a Y/Project. E na segunda-feira dessa mesma semana, Dries Van Noten revelou que Julian Klausner, até então responsável pelo womenswear da marca, assumiria a posição de cabeça visível da casa, sucedendo o próprio fundador. A essa altura, já conhecemos sua coleção de estreia, assim como a de Sarah Burton para Givenchy, Haider Ackermann para Tom Ford – substituindo Peter Hawkings após um ano no cargo – e a de Veronica Leoni para Calvin Klein.
Esse cenário não é novidade. Nos últimos meses, os cargos de direção criativa das marcas de luxo começaram a vivenciar o seu próprio efeito dominó. Revisando os movimentos mais recentes da indústria, sabemos que Hedi Slimane deixou a Celine e Michael Rider assumiu seu lugar, Sean McGirr agora está à frente da Alexander McQueen, Kim Jones também deixou a Fendi, e Dario Vitale passou o comando da Miu Miu para Francesca Nicoletti. E essas são apenas algumas das confirmações oficiais, com mais a caminho, já que há uma grande especulação sobre quais designers irão para quais marcas: uma delas é que Pierpaolo Piccioli (ex-Valentino) assumiria a Fendi após a celebração do centenário da marca este ano. Também se fala que Daniel Lee sairá da Burberry para seguir outro caminho e que Casey Cadwallader se despedirá da Mugler ainda em março. E onde John Galliano irá? Retomará a direção de sua marca homônima ou tomará as rédeas da órfã Balenciaga?
Como em todos os aspectos da vida, o mundo adora fofocas e se diverte criando histórias – por enquanto – fictícias, então a trama de quem substituirá quem para formar a nova ordem da moda continuará sendo o tema principal deste 2025.
Um momento atual que, longe de ser novo, lembra suspeitosamente o que vivemos há uma década. Justo quando a moda estava em um ponto de fadiga e apatia, JW Anderson entrou na Loewe para revolucioná-la (2013), Alessandro Michele assumiu a Gucci e Demna, a Balenciaga, para mudar o conceito que tínhamos dessas marcas (2015). Um pouco mais tarde, Virgil Abloh selou a aliança entre streetwear e luxo ao aceitar o cargo de diretor artístico da linha masculina da Louis Vuitton (2018). Uma lista de nomes que foi um sopro de ar fresco para a indústria e trouxe de volta a excitação para as passarelas.
Agora, a troca de etiquetas começou novamente e coincide justamente com uma aparente paralisia criativa. Coincidência? Parece que, com suas últimas propostas e aguardando a estreia das recém-nomeadas direções artísticas (as primeiras já estrearam em março), as marcas de luxo entraram em um período de transição no qual preferiram sublinhar os signos de identidade pelos quais são amplamente conhecidas e apostar, em sua maioria, em propostas criativamente estáticas que as preparam para a mudança de era.
Basta revisar as últimas semanas de moda. Os desfiles primavera/verão 2025 realizados em Milão e Paris deixaram um clima calmo, sossegado e continuísta, salvo algumas exceções –todos esperavam ansiosamente pela estreia oficial de Alessandro Michele na Valentino–. Um circuito de Fashion Weeks que se concentrou mais na viralidade das primeiras filas e no jogo das cadeiras das principais casas de moda do que nas próprias coleções, as quais reafirmaram os códigos que já conhecíamos, sem grandes mudanças. E essa calma é suspeita. Por quê? Como o próprio JW Anderson explicou em seu comunicado de despedida: “uma marca não se constrói no primeiro desfile, nem mesmo no primeiro ano de desfiles, ela é construída lentamente temporada após temporada, ano após ano”, daí este aparente estancamento criativo.
Agora é hora de atravessar um período em que a moda será mais entediante do que o habitual em termos criativos –pelo menos até que as novas direções artísticas se estabilizem–, embora nunca devamos subestimar um período de calma. Em todo caso, seria bom recorrer à sabedoria popular. Como diz o ditado: “livra-me das águas calmas, que das revoltas me livro eu”, e a moda já começou seu ciclo. Será melhor se preparar, porque embora o que estamos vivendo seja uma consequente calma chicha, o que virá em um futuro próximo será forte em termos de inspiração e design, algo que pode mudar novamente a moda por completo; mas o que eu posso te contar que você não saiba? Na moda, tudo volta.

